segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sorte


Dançávamos a dança do amor. Você de um lado, com um sorriso no rosto olhando para um rapaz mais velho. Eu, do outro, olhando para uma garota loira, uns meses mais nova. A dança não era clássica, mas era uma valsa; dançávamos com alguém sem par, a qualquer dia, a qualquer lugar. Às vezes não queriam dançar com a gente; tudo bem, ser rejeitado é algo natural. E eu ainda não reparava no jeito alegre que você dançava com aquele rapaz ou no jeito que ele te olhava com olhos famintos, não carnalmente, mas no tudo de você. Quando deu uma batida do sino, vocês se soltaram e se afastaram. Teu olhar ficou perdido no dele quando te tirei pra dançar aquela dança curta. 

E depois que nos soltamos, dentro daquela noite de maio azeda, eu quase não pude mais dançar com ninguém. Tentei dançar todos os tipos de dança: aquelas rápidas e sensuais; aquelas lentas, gigantescas; aquelas passageiras de tão efêmeras. E quando eu tive outro relance de você, me contive para te chamar a dançar de novo. Diante de toda a desolação, saberia que nunca mais iriamos formar um par na pista. Com a porta fechada, eu pude olhar melhor para os rostos sentidos, alguns até exaustos. 

Naquela pista de dança havia mais gente solitária, sentada nas cadeiras ao redor, do que eu havia imaginado a princípio. Eu segui até uma delas e perguntei se queria dançar. Ela me olhou com uma expressão vaga de lembrança, como se me conhecesse. E eu sabia que eu já a conhecia. Ela pensou por uns segundos e depois disse:

 - Claro. Por que não?

Começamos a dançar sem nos sentirmos exaustos. Aquela valsa lenta se tornou rápida e se alterou aos poucos em algo muito mais elaborado. Sabíamos os passos apesar de nunca ter encontrado-os. Sabíamos que a dança era imortal, como nossos olhos refletidos nos olhos do outro e isso nos bastou para saber que tínhamos a sorte ao nosso lado, nem que fosse por apenas um momento, por um reflexo suave de nossa felicidade.

2 comentários: