quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sobre escrever e ser



Escrever sempre foi algo importante.
Não importa se for no caderno ou na internet
Nem se for a mão ou através de uma máquina
Escrever é sempre algo importante
É o grito potente de cada sentimento já sentido
O cheiro constante de cada vaga lembrança do passado
O vento e ventania e tempestade que chega de cada nostalgia e argumento pensados
O afeto incondicional de cada coisa em teu ser, de até mesmo coisas que nunca pensou em pensar
Coisas que nunca pensou em fazer, coisas que nunca pensou em sentir
Coisas que nunca se imaginou imaginando

Escrever é a liberação de tudo aquilo que você é
Tudo aquilo que já foi
Tudo aquilo que um dia você será
Ao escrever, colocamos nossas essências em cada palavra e cada ponto final
Em cada interrogação e exclamação
Em cada vírgula que entrepausa as mágoas e alegrias da vida
Em cada sentença que brandimos sem espadas
Mas sempre com penas
Talvez pena até de nós mesmos

Escrever é aquilo que nos faz maiores do que tudo
É passar adiante conhecimentos e verdades
Imaginações que ninguém jamais havia chegado perto
E, fazendo isso
Ficar um pouco mais próximo do estranho mundo que vivemos
De cada estranho que nunca viu
De cada sentimento que já sentiu
De você próprio

Escrever é brincar com palavras
Uma
De
Cada
Vez
Como tijolos de construção
Construindo a ponte que nos leva da margem do desconhecido 
Até a margem do etéreo

Escrever é a arte de viver
É a arte de ser
É a arte de se encontrar no mar que você navega
É a arte de se emocionar
É a arte de ser aquilo que quiser ser

Para todos aqueles que escrevem, sem necessariamente ter escrito um livro, sem necessariamente ter um blog, sem necessariamente ter publicado ou mostrado alguma coisa que já escreveu para alguém, feliz Dia do Escritor! Os dias ficam mais felizes quando vocês escrevem.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Partituras da partida

É um tanto quanto estranho realizar que as pessoas realmente partam. Elas partem para outro lugar, elas partem o teu coração, elas partem suas próprias vidas. Elas teimam em dizer que nunca te deixarão e sempre partem para longe dessa realidade cruel que, por uma necessidade, apelidamos de vida. As pessoas partem. Elas não te deixam pra baixo, elas vão pra baixo, enterradas a 7 palmos longe da sua visão e de seu tato, passando a morar somente na memória partida que você tem da pessoa antes dela partir de sua realidade cruel. Todos partem, todos partirão, tudo passa, tudo passará, todos passarão, todos passarinho. E quando vem aquele sinal dizendo que alguém te deixou, partiu, para longe, bem longe, daqui, seu cérebro simplesmente não concebe o ideal. Até pensa na possibilidade ridícula de rir, porque tem que ser uma piada, tem que ser algum gesto de mal gosto contra você. Ninguém abandona ninguém nesse mundo, isso é coisa de filmes, de livros, de séries, de cultura. Na vida isso não existe, então eu tô quase rindo. É geralmente nessa hora que chega o desconforto, a necessidade de se acalmar porque tudo está tão calmo depois da partida do alguém. Tudo fica absolutamente em silêncio dentro de você, esperando a hora derradeira da metamorfose do desconforto em tristeza e, depois da tristeza, a irreparável certeza que somos tão leves que a qualquer hora o vento vai nos partir para longe de nossos sonhos. A partida sempre é triste, ninguém gosta de dizer adeus. O mundo fala e transcorre, e sua dor, que parecia uma passageira de algum trem, acha um cantinho solitário dentro de seu coração para ficar alojado ali pelo tempo que achar conveniente. A pessoa partida de sua realidade cruel não precisa ser conhecida, sentida, amada, abençoada, guardada nas memórias vãs do passado. A simples referência já te traz o aviso rápido que aquilo não é legal. É desconfortante. É triste. É passageiro. Mas nunca é rápido, nunca é passageiro. Por menor que a agonia, que a dor, seja, nosso coração é mais vazio do que cheio, e a amargura começa a tomar forma. Você chora na esperança de liberar tudo isso, e nem sempre tudo vai, nem tudo parte, apesar de ter o coração partido com a partida do par que lhe causou essa partura. A dor da partida é algo que somente o receptor da notícia sente. O labirinto de sua mente começa a dar mais voltas, a alma começa a decair em tristeza, talvez até em solidão. A voz fica estagnada. O clima fica mais frio, apesar do calor de 30 graus. Começa a nevar em você, fora de você. Era, ela, fora de você. No meio do silêncio você tenta dar voz a razão prática de existir sem partir e não consegue. Você chora mais, e mais, e mais. Talvez nunca por fora, mas sempre por dentro. Teu ser se repele. Teu ser apela para as memórias do criado-mudo. Uma fotografia. Uma origem de todo aquele sentimento que parece já tão distante porque você quer ficar nas nostalgias da pessoa que se foi. A partida é o que há e, para quem fica, só restam as lembranças partidas de uma vida que uma vez se partiu em cerca de 1001 pedaços por todo o teu ser e não ser. As possibilidades se zeram e sua bagagem incha. Teu coração quase te esmaga.

Para quem fica só fica a solidão, e o pensamento de como viver se te partiram ao partirem. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Parecia que era minha aquela solidão


Nós no maior buraco negro da história. A condensação do nosso amor era sagaz, firme e, se me permite dizer, completamente patética. Eramos duas almas sem rumo e sem local de parada que se chocaram quando ambos tentaram atravessar o mesmo rio de incertezas no mesmo barco. Um barco já antigo, cheio de amarguras de vidas e incertezas passadas, de sonhos quebrados pelas mãos da vida e de vidas pobres de amor. É, eu me lembro de nos termos encontrado naquele barco, navio. Estávamos no mesmo barco, seguindo a mesma direção, e eu estava começando a achar que o barco estava afundando aos poucos. Do nosso encontro, a felicidade clandestina de dois imigrantes temporários. Do nosso reencontro, o amor de duas almas sintonizadas na mesma rádio. Do nosso beijo, a paixão louca de duas tempestades se chocando na formação de olhos, não castanhos, mas verdes e impulsivos como os trovões na praia. Seguimos o mesmo barco, na mesmo direção, por tempo indeterminado. Navegamos cada vez mais para um destino certo, que ambos ignoramos por medo e vergonha de admitir alguma vez que algum de nós estava errado. Sabíamos que era tudo errado, e nosso sentimento de união era mais forte do que a frequência dos erros que atingia nossos peitos e ouvidos. Era amor, não tínhamos dúvidas. Era amor, passageiro e de carona no pior dos barcos, navios. Quando batemos na encosta e reparamos que trilhávamos caminhos diferentes, quisemos mesmo assim nos manter juntos através de uma corda que se esticava cada vez que um de nós dava um passo em frente. Um seguia para frente, outro ia para atrás. E a corda aguentava. Nossas comunicações começaram a se tornar falhas enquanto o tempo demorava para passar e tudo ficava cada vez mais pesado em nossas costas. Ao sair da praia que desembarcamos, eramos apenas mais duas almas solitárias, desesperadas por uma companhia, fosse de qualquer tipo. Andávamos e corríamos a toda a hora para frente para ver o que havia em nosso futuro, mas nunca dava certo; sempre estávamos para trás. Eramos nós, nossos nós atados a corda que ficava cada vez mais inconstante e quebradiça. Nós no buraco negro da solidão e da exaustão até que um dia a corda se quebrou. O amor que era amor se despedaçou e a paixão que era paixão nunca se sentiu mais perdida. Nosso amor foi passageiro, engavetado nas ondas do mar e do amar. Não precisamos mais dele agora que estamos em terra firme e podemos viver nossas vidas de maneira retilínea, sem os distúrbios dos ventos em nossos corpos. A inconstância das águas nos fizeram ficar juntos e a solidez da terra nos fez separar. De lados opostos, rezamos para juntos ficar. Mas, por fim, só pudemos nos lamentar.

E agora, firme em meus pés, longe da areia da praia, meus pensamentos voltam a você, aquela que foi minha companheira de viagem por um tempo que pareceu durar mais de uma eternidade. Talvez seja saudades do fundo da alma ou talvez seja somente o frio que pede para amar alguém. Mas é óbvio que não te amo. Pelo menos não mais. Nossa trágica história de turistas apaixonados é agora somente pó através da fechadura do tempo, num vento que vai passando e não consegue deixar nada intacto. Fizemos o que tivemos que fazer e nos findamos. Fincamos nossos pés na terra firme e dissemos um para o outro "foi bom ter te acompanhado, mas, agora, a viagem acabou, pelo menos para nós, pelo menos naquele barco". É. A viagem acabou, aquela viagem que deveria nos unir e nos separar, como prometera e como cumprira. Só nos resta seguir o mesmo mapa sem rodovias, sem estradas, sem ruas ou lugares conhecidos que tínhamos desde sempre, um mapa em branco com apenas lugares nenhuns, na fatal fé de que encontraremos alguém para nos acompanhar por essa viagem infinita que é a vida.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Para Janine (ou "Vá então, há outros mundos além deste...")


Para Janine, escrever aquela carta deveria ser muito complicado. Mas não foi.
    
    Ela era uma escritora fascinante, mas nunca prestigiada e ela já tinha em mente a maior de suas obras. Na verdade, já iria acabá-la. Se sentou à frente de sua Underwood, sua amiga mais antiga e começou a datilografar o que seria uma obra-prima.
    Ela repensou todas suas idéias, todos os motivos que a levaram para aquele instante e garantiu que estava fazendo a coisa mais certa possível consigo mesma. Aquele pedaço de papel seria sua entrada monumental para a história da literatura, mesmo que não houvesse como comprovar isso. Ela simplesmente sabia e sempre fazia com maestria o que sabia.
    Os dedos passavam pelas teclas e o barulho de cada escrita ecoava pelo mausoléu que se tornou sua casa. Ela só trabalhava e trabalhava, sempre no mesmo local agonizante que era o mundo da economia. Se sentia descartada dentro daquele banco, se sentia isolada e mesmo sendo muito esperta (e até muito inteligente quando se tratava de exatas) não conseguia se encaixar.
    Mas ela nunca desistiu de seus sonhos: ter o nome marcado na história e ter uma de suas obras considerada um clássico da literatura mundial. Escrevia todos os dias e juntou dinheiro para comprar sua maquina de escrever. Criou um blog e fermentou ideais que nunca foram concretizados. Janine ainda vivia no inferno, sem amigos próximos, num trabalho que ela odiava com todas as suas energias e com um coração esmagado continuamente por amantes pretensiosos e extremamente egoístas. E enquanto ela escrevia, ela lembrava o rosto e o nome de cada infeliz. Fazia questão de lembrar deles enquanto datilografava, simplesmente para colocar toda sua essência em papéis que poderiam ser muito bem descartados.
    Janine se entreteve por mais tempo que imaginava e as páginas escritas nunca ficavam do jeito que queria. Não a agradavam. E cada folha péssima que ela digitava, ela amassava e jogava por trás de seu ombro, formando uma pequena pilha de bolas de papel.
    Se concentrou um pouco mais no serviço e finalmente escreveu aquilo que tanto queria. Para ela, escrever era algo refrescante, mas às vezes era algo maligno e uma boa idéia poderia não sair muito bem ao ser transposta de sua mente ao papel. Entretanto, ela sempre alcançava o que queria ao escrever, e o que ela tinha passado a limpo era sua entrada para o mundo fantástico dos autores famosos.
    Olhou para o relógio e viu que eram 01h12. Abriu o blog e programou um post para depois das duas da manhã. Releu o texto recém nascido duas vezes e o colocou ao lado de sua Underwood. Aquela era a hora e precisava fazer rápido. Como seu pai dizia: “Quando uma oportunidade aparecer, e você a estimar muito, agarre-a com unhas e dentes e não solte-a até alcançar seus objetivos”. Ela não iria desperdiçar mais uma oportunidade. Pegou a cadeira em que estava sentada e a moveu de lugar. Ficou em pé nela e abriu a porta de cima de seu armário. Pegou todos os livros que havia escrito e nunca havia lançado por destino do mundo. Desceu da cadeira e deixou os livros no lado oposto de sua obra-prima. Livros, máquina e magnum opus, tudo junto.
    Pegou a cadeira novamente e levou para outro canto. Verificou todas as gambiarras e se certificou que nada iria falhar de última hora. Se ergueu mais uma vez na cadeira, agarrou sua oportunidade e nunca mais a soltou.