domingo, 8 de novembro de 2015

Fui

Os poemas se foram, assim como os amores
Indiciados por serem vulgarmente recomendados
Trechos heroicos de uma vida decepcionante
Os poemas se foram e lá se vão os amantes
Ora sim, ora não, contrabandeio um pouco de emoção
E lembro que até minha alma pediu perdão
Enquanto seguia pela saída de emergência do prédio
Os poemas se foram, os amores se foram, eu fui
Já fui melhor, já tive mais amor, já fui alguém maior
Seguia métricas decassílabas, clássicas como são
Sonetos apaixonantes seguindo a tradição
Tive amores incontáveis e a eles escrevi poemas milhares
Mas os poemas já se foram
Os amores já se foram
Os trechos de minha vida já se foram
Fui mas não tive sorte em ser e ter
Fui embora pela entrada e dancei uma meia volta
Atalhado pelo insucesso da vida e do coração
Os poemas se foram, assim como os amores
Foram belos enquanto duraram e se foram
Fui-me e voltei-me pro prédio que chamo de prisão e corpo
Observei seu estado decadente e vencido
Compreendi as ausências sentidas em seu interior
E voltei-me com outra visão, outra razão, outro coração
Sofri em meu silêncio perturbador e adentrei nova mente
Impuro mas a par de meus impares
Fui-me e voltei-me
E logo após voltaram
Os poemas voltaram assim como os amores
E fui.

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