quarta-feira, 17 de julho de 2013

Partituras da partida

É um tanto quanto estranho realizar que as pessoas realmente partam. Elas partem para outro lugar, elas partem o teu coração, elas partem suas próprias vidas. Elas teimam em dizer que nunca te deixarão e sempre partem para longe dessa realidade cruel que, por uma necessidade, apelidamos de vida. As pessoas partem. Elas não te deixam pra baixo, elas vão pra baixo, enterradas a 7 palmos longe da sua visão e de seu tato, passando a morar somente na memória partida que você tem da pessoa antes dela partir de sua realidade cruel. Todos partem, todos partirão, tudo passa, tudo passará, todos passarão, todos passarinho. E quando vem aquele sinal dizendo que alguém te deixou, partiu, para longe, bem longe, daqui, seu cérebro simplesmente não concebe o ideal. Até pensa na possibilidade ridícula de rir, porque tem que ser uma piada, tem que ser algum gesto de mal gosto contra você. Ninguém abandona ninguém nesse mundo, isso é coisa de filmes, de livros, de séries, de cultura. Na vida isso não existe, então eu tô quase rindo. É geralmente nessa hora que chega o desconforto, a necessidade de se acalmar porque tudo está tão calmo depois da partida do alguém. Tudo fica absolutamente em silêncio dentro de você, esperando a hora derradeira da metamorfose do desconforto em tristeza e, depois da tristeza, a irreparável certeza que somos tão leves que a qualquer hora o vento vai nos partir para longe de nossos sonhos. A partida sempre é triste, ninguém gosta de dizer adeus. O mundo fala e transcorre, e sua dor, que parecia uma passageira de algum trem, acha um cantinho solitário dentro de seu coração para ficar alojado ali pelo tempo que achar conveniente. A pessoa partida de sua realidade cruel não precisa ser conhecida, sentida, amada, abençoada, guardada nas memórias vãs do passado. A simples referência já te traz o aviso rápido que aquilo não é legal. É desconfortante. É triste. É passageiro. Mas nunca é rápido, nunca é passageiro. Por menor que a agonia, que a dor, seja, nosso coração é mais vazio do que cheio, e a amargura começa a tomar forma. Você chora na esperança de liberar tudo isso, e nem sempre tudo vai, nem tudo parte, apesar de ter o coração partido com a partida do par que lhe causou essa partura. A dor da partida é algo que somente o receptor da notícia sente. O labirinto de sua mente começa a dar mais voltas, a alma começa a decair em tristeza, talvez até em solidão. A voz fica estagnada. O clima fica mais frio, apesar do calor de 30 graus. Começa a nevar em você, fora de você. Era, ela, fora de você. No meio do silêncio você tenta dar voz a razão prática de existir sem partir e não consegue. Você chora mais, e mais, e mais. Talvez nunca por fora, mas sempre por dentro. Teu ser se repele. Teu ser apela para as memórias do criado-mudo. Uma fotografia. Uma origem de todo aquele sentimento que parece já tão distante porque você quer ficar nas nostalgias da pessoa que se foi. A partida é o que há e, para quem fica, só restam as lembranças partidas de uma vida que uma vez se partiu em cerca de 1001 pedaços por todo o teu ser e não ser. As possibilidades se zeram e sua bagagem incha. Teu coração quase te esmaga.

Para quem fica só fica a solidão, e o pensamento de como viver se te partiram ao partirem. 

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