segunda-feira, 23 de junho de 2014

Poema com nome de batom



ela se fazia e se arrumava
todas as luzes em sua volta
entrando por seus olhos
exclamando: ah! o amor!
meu amor!
pegava um leque e se abanava
uivava músicas de romance
antigas tocadas na rádio
passava o batom com delicadeza
vermelho
ruby.
woo!, ela gritava
e se aprumava como aprumava sua vida
colocava um vestido
sexy, selvagem, preto
vulgar
e ela se sentia tão viva!
ah! o meu amor!
ela olhava e se apaixonava
pelo seu reflexo
nunca fora tão bela;
nunca fora tão ela
e quando a hora chegou
ela levantou as cortinas
saiu do quarto
seu casulo
e voou, livre
ah! o amor!

E lá estava o rapaz de grande formosura
Não se esperava nada mais daquela galante figura
De terno e gravata esperava paciente
Que sua amante se tornasse presente
Tanto que a viu e encheu os olhos de lágrimas
Pois é que a via, e os poetas ficariam sem rimas
Podendo nunca, jamais, expressar com exatidão
O fogo que ela causava em seu coração
Linda ela era e linda sempre fora
Ela era dele, disso ele sabia bem agora
Ele não tinha palavras, apenas uma expressão
Abestalhada de pura paixão

- Meu deus, como está linda! - ele exclama.
- ah! meu bem! você que é minha chama! ela declama

já jantavam
o olhar dele perdido
em
suas curvas
seus lábios
vermelhos, ruby
woo, ela grita por dentro
voando entre os espaços
abertos do salão
de festas
ela quer dançar
seu vestido, preto, vulgar
selvagem
uma borboleta rara numa terra
desconhecida
e uma chama a chamando
ah! meu amor! oh! amor!
e as antigas canções da rádio
tocando
a histeria em suas cordas vocais
ela quer gritar
e ser livre

Ele a observava com muito mais que ternura
Aquela borboleta selvagem, doce criatura
Seus lábios, vermelhos, o atraiam
Enquanto muitos dos pensamentos fugiam
E as únicas coisas que permaneciam em sua mente
Era o quanto não a ter conhecido antes era deprimente
Ali estava ela e ele não poderia estar mais apaixonado
E seus sonhos pareciam ter finalmente se concretizado
Pois era amor, ele podia ouvir a voz
De sua mãe, rugindo em seu ouvido, feroz
Sabendo que era verdade e seu coração era um tambor
E aquilo só poderia ser amor.

ah! meu amor!
Minha querida, doce amor.
não pares e não me deixes!
Nunca faria isso, seja o que for.

E rolaram pro declive e buraco sujo.
Infestado de insetos
sonhos
pessoas
e coisas inexplicáveis.
Eram os dois, embalados, cercados pelo terror
e ninguém prestava atenção a música de fundo
Pois aquilo era, finalmente, para eles
E nenhuma poesia de ambos conseguiria definir
A que ponto que chegaram e se perderam
Uma borboleta selvagem, sem respeito
revolucionária
Um galã carismático, sonhador
estável
Onde reinavam na imundice do mundo
e uniam o que eram, o que foram e o que seriam
Numa dança vermelha e terna
Onde sujos eles estavam e não ligavam
Pois o texto era deles
o pretexto era deles
Era finalmente para eles
Eles finalmente eram deles
Se sujando de sangue das feridas abertas
no meio do porco mundo que habitavam
dos velhos problemas que ignoravam
das catástrofes iminentes
e eles só pensavam:

ah! o amor! Doce amor.

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