terça-feira, 9 de julho de 2013

Parecia que era minha aquela solidão


Nós no maior buraco negro da história. A condensação do nosso amor era sagaz, firme e, se me permite dizer, completamente patética. Eramos duas almas sem rumo e sem local de parada que se chocaram quando ambos tentaram atravessar o mesmo rio de incertezas no mesmo barco. Um barco já antigo, cheio de amarguras de vidas e incertezas passadas, de sonhos quebrados pelas mãos da vida e de vidas pobres de amor. É, eu me lembro de nos termos encontrado naquele barco, navio. Estávamos no mesmo barco, seguindo a mesma direção, e eu estava começando a achar que o barco estava afundando aos poucos. Do nosso encontro, a felicidade clandestina de dois imigrantes temporários. Do nosso reencontro, o amor de duas almas sintonizadas na mesma rádio. Do nosso beijo, a paixão louca de duas tempestades se chocando na formação de olhos, não castanhos, mas verdes e impulsivos como os trovões na praia. Seguimos o mesmo barco, na mesmo direção, por tempo indeterminado. Navegamos cada vez mais para um destino certo, que ambos ignoramos por medo e vergonha de admitir alguma vez que algum de nós estava errado. Sabíamos que era tudo errado, e nosso sentimento de união era mais forte do que a frequência dos erros que atingia nossos peitos e ouvidos. Era amor, não tínhamos dúvidas. Era amor, passageiro e de carona no pior dos barcos, navios. Quando batemos na encosta e reparamos que trilhávamos caminhos diferentes, quisemos mesmo assim nos manter juntos através de uma corda que se esticava cada vez que um de nós dava um passo em frente. Um seguia para frente, outro ia para atrás. E a corda aguentava. Nossas comunicações começaram a se tornar falhas enquanto o tempo demorava para passar e tudo ficava cada vez mais pesado em nossas costas. Ao sair da praia que desembarcamos, eramos apenas mais duas almas solitárias, desesperadas por uma companhia, fosse de qualquer tipo. Andávamos e corríamos a toda a hora para frente para ver o que havia em nosso futuro, mas nunca dava certo; sempre estávamos para trás. Eramos nós, nossos nós atados a corda que ficava cada vez mais inconstante e quebradiça. Nós no buraco negro da solidão e da exaustão até que um dia a corda se quebrou. O amor que era amor se despedaçou e a paixão que era paixão nunca se sentiu mais perdida. Nosso amor foi passageiro, engavetado nas ondas do mar e do amar. Não precisamos mais dele agora que estamos em terra firme e podemos viver nossas vidas de maneira retilínea, sem os distúrbios dos ventos em nossos corpos. A inconstância das águas nos fizeram ficar juntos e a solidez da terra nos fez separar. De lados opostos, rezamos para juntos ficar. Mas, por fim, só pudemos nos lamentar.

E agora, firme em meus pés, longe da areia da praia, meus pensamentos voltam a você, aquela que foi minha companheira de viagem por um tempo que pareceu durar mais de uma eternidade. Talvez seja saudades do fundo da alma ou talvez seja somente o frio que pede para amar alguém. Mas é óbvio que não te amo. Pelo menos não mais. Nossa trágica história de turistas apaixonados é agora somente pó através da fechadura do tempo, num vento que vai passando e não consegue deixar nada intacto. Fizemos o que tivemos que fazer e nos findamos. Fincamos nossos pés na terra firme e dissemos um para o outro "foi bom ter te acompanhado, mas, agora, a viagem acabou, pelo menos para nós, pelo menos naquele barco". É. A viagem acabou, aquela viagem que deveria nos unir e nos separar, como prometera e como cumprira. Só nos resta seguir o mesmo mapa sem rodovias, sem estradas, sem ruas ou lugares conhecidos que tínhamos desde sempre, um mapa em branco com apenas lugares nenhuns, na fatal fé de que encontraremos alguém para nos acompanhar por essa viagem infinita que é a vida.

Um comentário:

  1. Parabéns! Você escreve muito bem e tem uma mente aberta *-*
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